Nvidia – A Administração Estatal para Regulação do Mercado (SAMR), órgão responsável pelo controle de concorrência na China, anunciou nesta segunda-feira (15) que uma investigação preliminar apontou violações da lei antimonopólio por parte da Nvidia.
O processo marca mais um revés para a gigante americana de semicondutores em um momento de alta tensão nas relações comerciais entre Washington e Pequim. O anúncio ocorreu em paralelo às negociações entre os dois países em Madri, onde o tema dos semicondutores, incluindo os chips da Nvidia, está na pauta.
LEIA: Demissões em massa em TI revelam mudanças nas habilidades mais valorizadas
Analistas consultados pela Reuters avaliam que o comunicado foi estrategicamente cronometrado para reforçar a posição da China nas conversas. “Ambos os lados buscam criar margem de manobra para negociar em melhores condições, mas fazem isso com movimentos muito calculados, conscientes do que está em jogo”, afirmou Alfredo Montufar-Helu, diretor-geral da consultoria GreenPoint.
De acordo com Zhengyuan Bo, sócio da Plenum Research, a medida da SAMR deve ser entendida como uma resposta direta à decisão do governo Trump de incluir, na última sexta-feira, 23 empresas chinesas em uma lista de restrições comerciais.
“É um aviso: se os controles de exportação americanos continuarem no mesmo padrão dos últimos anos, haverá consequências, e a China está disposta a impor custos às empresas dos EUA”, destacou.
O movimento pressiona o CEO da Nvidia, Jensen Huang, que tenta reduzir as tensões entre os dois governos para manter a venda de versões adaptadas de seus chips no mercado chinês. Só neste ano, Huang já esteve na China três vezes, em visitas que buscavam reafirmar o compromisso da empresa com o país, responsável por US$ 17 bilhões em receita no último ano fiscal, cerca de 13% do faturamento total. Após o anúncio, as ações da Nvidia caíram 2,1% no pré-mercado desta segunda-feira.
Investigação segue em curso
A SAMR não detalhou quais condutas caracterizariam a violação da legislação antitruste, mas lembrou que já havia aberto uma apuração em dezembro sobre possíveis infrações. Na época, a iniciativa foi interpretada como resposta às restrições impostas por Washington ao setor de semicondutores chinês.
O regulador ainda apontou que a Nvidia descumpriu compromissos firmados na aquisição da israelense Mellanox Technologies, aprovada em 2020 sob condições específicas, entre elas, a de manter o fornecimento de aceleradores de GPU ao mercado chinês. Nos últimos anos, entretanto, a empresa foi forçada a suspender a venda de seus chips mais avançados devido aos controles de exportação implementados pelo governo Biden.
Pelas regras antimonopólio da China, companhias podem ser multadas em até 10% do faturamento anual. A investigação permanece em andamento, e a Nvidia ainda não se pronunciou.
O acesso da China a chips de inteligência artificial de ponta é um dos principais focos da disputa tecnológica com os Estados Unidos. Apesar das barreiras, empresas locais como Tencent e ByteDance continuam adquirindo versões modificadas dos produtos da Nvidia, como o chip H20, adaptado para atender às restrições.
Autoridades chinesas, no entanto, já convocaram representantes da empresa para discutir riscos de segurança associados a esses equipamentos. Para Bo, da Plenum, mesmo que a Nvidia enfrente sanções decorrentes do processo antitruste, o impacto financeiro deve ser menor do que o esforço da China para desenvolver alternativas locais.
“Não se trata de expulsar a Nvidia do país, mas de acelerar a busca por substitutos nacionais”, avaliou.
(Com informações de O Globo)
(Foto: Reprodução/Freepik/wirestock_creators)