Profissionais de tecnologia – O avanço da inteligência artificial (IA) generativa trouxe uma novidade inédita na história das revoluções digitais: pela primeira vez, a transformação atinge diretamente os próprios profissionais da área de tecnologia. Programadores, engenheiros e cientistas de dados já veem sistemas capazes de escrever códigos, corrigir erros e sugerir melhorias assumindo atividades que antes eram o primeiro degrau de quem ingressava no setor.
Nos Estados Unidos e na Europa, esse movimento já resulta em cortes de vagas, principalmente em big techs que buscam equilibrar os altos custos com IA. No Brasil, o quadro é diferente: a tecnologia continua liderando a abertura de empregos, com a previsão de 88 mil novas oportunidades formais até o fim do ano, segundo a Brasscom. Ainda assim, a exigência sobre os profissionais mudou.
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Se antes dominar linguagens de programação era o suficiente, agora ganha destaque quem sabe integrar e comandar sistemas de IA. Criatividade, pensamento crítico e capacidade de adaptação aparecem como habilidades mais valorizadas do que a simples execução de tarefas.
Mercado em transformação
Para Elisa Jardim, gerente da consultoria de recrutamento Robert Half, o cenário é claro: “Funções repetitivas como suporte técnico básico e analista de testes manuais de software já são impactadas pela IA e perderam relevância. Até porque essas novas tecnologias substituem o trabalho mais operacional dos desenvolvedores”.
Para empresas como o Pitang Labs, no Recife, a IA deixou de ser complemento e passou a ser parte do processo. Lá, a produtividade cresceu 35% desde a adoção dos sistemas inteligentes.
Essa aceleração, no entanto, gera dilemas. Como lembra o programador Giovanni Bassi, com três décadas de experiência, a eliminação de tarefas para iniciantes pode comprometer a formação dos futuros especialistas: “Sem abertura para iniciantes, como teremos os profissionais seniores no futuro?”.
Pressão sobre universidades
O impacto também chega ao ensino. Metade das 475 empresas instaladas no Porto Digital, em Recife, já utiliza IA em suas rotinas, e universidades parceiras correm para atualizar currículos. “As universidades estão estacionadas, e não só no Brasil.”, alerta Pierre Lucena, presidente do hub.
Iniciativas começam a surgir, como o novo curso de graduação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), que mistura teoria, ciência de dados, física e humanidades para formar profissionais com visão ampla e capacidade de adaptação.
Para o diretor-geral Marcelo Viana, essa combinação é vital. “Quem terá mais chances de prosperar no mercado futuro é quem tiver múltiplos talentos e capacidade de ser criativo e se adaptar a um cenário em mutação acelerada”.
(Com informações de O Globo)
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